Sangramento uterino e dor pélvica são duas queixas comuns na cirurgia ginecológica, e que podem coexistir na mesma paciente. Quando a paciente refere sangramento vaginal anormal, de grande volume ou irregular que ultrapassa ou acontece fora do ciclo menstrual devemos investigar. A grande maioria dos sangramentos vaginais pode estar ligado a uma alteração anatômica como mioma, adenomiose, pólipos uterinos que serão demonstrados em exame de imagem complementar. Nesses casos, a correção cirúrgica da alteração anatômica irá restabelecer a paciente. Outra parte dos sangramentos vaginais estão ligados à alteração hormonal. Aqui, a hormonioterapia é o primeiro passo para corrigir esta condição, porém existem pacientes com contra-indicação à hormonioterapia (como acidente vascular cerebral, trombose venosa, fumante) ou mesmo que já usaram da hormonioterapia e não tiveram o resultado desejado, além de terem sentido os efeitos colaterais. Para essas pacientes que já têm a prole definida, a cirurgia de Histerectomia é uma ótima opção. Como causa de sangramento muito menos comum, mas que deve ser sempre excluída é o câncer ginecológico (útero, colo do útero). São pacientes com maior risco de sangramento por câncer de colo uterino aquelas que não estão fazendo a coleta do preventivo anual e que tiveram alteração em algum momento da vida deste preventivo, mas não deram seguimento. Em câncer de endométrio, temos como grande fator de risco a obesidade, hipertensão e diabetes, fatores que levam ao aumento do estrogênio, geralmente são pacientes com sangramento pós menopausa e que sempre devem ser investigadas.
Miomas
São benignos e resultam do crescimento nodular de músculo dentro da própria camada muscular do útero. Em sua maioria, são achados em ultrassonografia durante exame de rotina ginecológico direcionado por dor pélvica, sangramento volumoso ou irregular, e em alguns casos de paciente assintomáticos. A causa para seu aparecimento não está definida, mas geralmente sofrem influência da variação hormonal feminina (estrogênio e progesterona), e assim crescem na época que a mulher menstrua (menacme) e sofrem regressão de tamanho com a menopausa (baixa hormonal).
Miomas podem estar presentes em 3 localizações no útero. Os que estão localizados abaixo da camada de endométrio que descama na menstruação são conhecidos como Mioma Submucoso. Esses geralmente, apesar de não serem volumosos, causam muito sangramento irregular e cólica, podendo dificultar a gravidez. Quando estão localizados no meio da camada muscular são conhecidos como intramural, e eles podem com o crescimento em relação ao tamanho uterino, projetarem-se para parte interna ou externa do útero, deformando-o e causando sangramento, dor e, na evolução, aumentar a frequência urinária por compressão, diminuir retorno venoso do membro inferior causando varizes e até trombose. Em alguns casos, pode dar a impressão que a paciente está grávida ocupando boa parte da cavidade abdominal. O terceiro tipo que seria o de crescimento da camada externa do útero, conhecido como subseroso, pode ter uma base fina (pediculado) ou larga, e é o menos sintomático dos miomas. Porém também pode causar desconforto dependendo da posição e tamanho. Na dependência do tamanho, sintomas, desejo de engravidar no futuro, prole definida, posição do mioma podemos realizar desde miomectomia por histeroscopia ou laparoscopia, embolização do mioma até histerectomia. Por isso, a consulta é muito importante neste momento para tomar a melhor decisão levando em consideração a apresentação de cada caso.
Adenomiose
São lesões benignas resultantes do crescimento do tecido glandular dentro da camada muscular do útero causando aumento do volume deste e com isto sangramento vaginal irregular e dor pélvica. Os miomas sofrem efeito de hormônios feminino, mas são menos responsivos ao tratamento hormonal, de modo que quando são muito sintomáticos e na falha do tratamento clínico, a melhora se dá com a cirurgia de histerectomia, hoje realizada por via vaginal ou minimamente invasiva (laparoscópica ou robótica).