Citorredução Tumoral

Citorredução tumoral ou Debulking é o nome dado a cirurgia que tem como objetivo reduzir os implantes tumorais a nível que a doença não seja mais visível ao olho humano nu, conhecido como citorredução completa; quando não for possível ressecar tudo devido a posição de algumas lesões sobre órgãos muito nobres, deve-se tentar ressecar até que os implantes residuais fiquem menores que 1 cm – conhecida como citorredução ótima. O racional é que dependendo do tipo de câncer, essa retirada de grandes volumes do tumor diminui a seleção de células resistentes à quimioterapia, e assim consegue-se melhores resultados com o tratamento.

Uma exemplificação bastante simples, mas que pode ajudar no entendimento é que se pensarmos que uma mesma colher pequena de sal pode deixar a água com sabor mais ou menos salgado na dependência de quanta água ela terá que ser misturada, a diluição num copo surtirá muito mais efeito do que numa jarra.

O câncer de ovário é onde aplicamos o conceito de citorredução tumoral, pois não temos exames para uma prevenção eficaz, de maneira que normalmente no momento do diagnóstico 70% dos casos já apresentam lesão fora do ovário, acometendo a superfície de órgãos dentro do abdome, apresentação conhecida como carcinomatose peritoneal.

A doença, que muitas vezes é assintomática no seu início, o que dificulta sua investigação, passa a ser sintomática. Nesse caso, a paciente vai à consulta no momento da carcinomatose peritoneal, com aumento do volume abdominal, levando a desconforto respiratório e sensação de plenitude gástrica e aumento na frequência urinária, porém, geralmente é um quadro indolor.

O tratamento padrão desse câncer envolve a laparotomia mediana. É possível utilizar a cirurgia minimamente invasiva como forma de investigar uma massa pélvica e avaliar a extensão da doença dentro da barriga. Isso porque sabemos que mesmo com a evolução dos exames de imagem como ultrassonografia, tomografia e ressonância, a sensibilidade destes para doença peritoneal é baixa. Somente cerca de 40% farão o diagnóstico de lesão fora do ovário antes da cirurgia. Uma vez confirmado o câncer de ovário, é necessário que a equipe cirúrgica e o centro onde está sendo realizada a cirurgia tenha capacidade de lidar com cirurgias de grande porte.

O cirurgião através de critérios da extensão, local da doença e estado geral do paciente irá julgar se a apresentação da doença é passível de citorredução tumoral ou não. A Citorredução tumoral e estadiamento cirúrgico envolve a histerectomía com anexos, omentectomía, linfadenectomía pélvica e para aórtica (até o nível das veias renais), somada a citorredução tumoral de implantes peritoneais e outros órgãos que podem estar acometidos. Em casos onde o cirurgião julgar não ser possível a citorredução, a paciente é encaminhada para quimioterapia neoadjuvante e, conforme resposta ao tratamento, a paciente é novamente submetida a nova tentativa de citorredução após 3 a 6 ciclos de quimioterapia.

Os avanços na técnica cirúrgica somados à quimioterapia em câncer de ovário estão evoluindo, demonstrando aumento da sobrevida e até ganhos nas taxas de cura. Sendo assim, a carcinomatose peritoneal por câncer de ovário é uma doença que, quando tratada de maneira correta, pode ser curável em alguns casos. Atualmente, a literatura científica apresenta a possibilidade de realização de quimioterapia intraperitoneal em ciclos junto com a venosa em casos com implantes intra-abdominais ressecados. Na dependência do tipo tumoral, existe a possibilidade do uso de anticorpos monoclonais com melhora dos resultados de sobrevida. A quimioterapia hipertérmica tem sido feita por alguns grupos no momento da citorredução e aparece como uma opção na cirurgia de intervalo das pacientes que, devido à extensão da doença, não foram candidatas a cirurgia primária e receberam quimioterapia neoadjuvante.

O Dr Marcelo Biasi Cavalcanti tem experiência e dedicação ao tratamento de câncer ovário desde a sua formação como cirurgião oncológico.

1 comentário em “Citorredução Tumoral”

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