Explante e Doenças do Implante Mamário – Síndrome ASIA – BIA-ALCL


A procura pela cirurgia para retirada de implantes mamários estéticos, também conhecida como Explante, vem crescendo nos últimos anos.

A maior parte dos casos procura fazer a remoção, porque está em outra fase da vida onde o desejo por uma mama de aspecto mais natural, menos pesada é maior que o benefício estético. Algumas dessas pacientes já passaram por algumas cirurgias para retoques ou revisão da prótese motivadas pela perda do resultado estético resultante do passar dos anos, por espessamento, enrijecimento, dor na cápsula mamária e troca da prótese por perda da validade ou rompimento desta.

A retirada da prótese implica em não ter contornos tão marcados e uma mama residual de tamanho semelhante a anterior, ou seja, menor e com queda ou excesso de pele, de modo que procedimentos como: MastopexiaLipoenxertia e Mamoplastia Redutora possam ser realizados para melhora do resultado estético final.

Síndrome Asia ou Shoenfeld é o nome dado para várias doenças incomuns geradas por reação autoimune a algum elemento indutor como o alumínio, escaleno ou silicone. O alumínio e o escaleno (óleo de tubarão) estão presentes em algumas vacinas e tem a intenção de promover a geração de anticorpos direcionados para o germe, ou seja, servem como indutores da imunidade.

Em alguns pacientes, devido a uma suscetibilidade genética, podem gerar uma reação que vai além do combate ao germe e passa a combater o próprio corpo – reação autoimune.

A Síndrome Asia tem este nome porque foi bem descrita em militares americanos que foram vacinados com intenção de irem combater no Iraque, porém devido a susceptibilidade genética acabaram por desenvolver algumas das várias apresentações, como sintomas de dor muscular (mialgia), dor articular (artralgia), aumento de linfonodos (linfadenopatia), fadiga crônica, vermelhidão na pele da região da face (eritema malar), doença tireoidiana autoimune e até Guillain-Barré – polirradiculopatia desmielinizante. O mesmo quadro pode ocorrer na paciente com prótese mamária, porém é raro. Estima-se que menos de 0,8 % das pacientes tenham a susceptibilidade genética e venham a apresentar um destes sintomas da Síndrome. Na eventualidade de existir sintomas, a procura de outras doenças independentes do silicone e que são mais bem mais comuns deverá ser realizada através de uma interação multidisciplinar do mastologista e reumatologista.

Prótese de silicone e câncer na mama

Infelizmente existe sim um câncer ligado à prótese de silicone, porém é uma doença rara e com elevado índice de cura como os números irão demonstrar. Em 1997 foi descrito o primeiro caso de Linfoma Anaplásico de Grandes Células associado à Prótese Mamária, também conhecida como BIA-ALCL. Apenas em 2016 é que esta doença foi incorporada a classificação de linfomas pela Organização Mundial de Saúde (WHO) como um Linfoma não Hodgkin de células T. Atualmente temos cerca de 900 relatos de casos na literatura científica, sendo que no mundo são colocados anualmente cerca de 1,7 milhões de implantes por ano, contando com cirurgias estéticas ou reconstrutivas, de modo que a incidência desta doença é pequena. É importante que o médico e a paciente saibam de sua existência para poder informar, suspeitar, investigar e diagnosticar, pois o número de cirurgias em mamas que utilizam próteses é crescente no Brasil e no mundo. Assim, pacientes podem optar se desejam colocar a prótese para sempre, por um período ou utilizar de técnicas que necessitem de prótese. A origem e evolução desta doença não está totalmente esclarecida. Sabemos que o tempo médio entre a colocação da prótese e o aparecimento de sintomas da doença é de 8 a 10 anos, o que leva aos pesquisadores a hipótese que necessitaria de uma reação crônica inflamatória local para o desenvolvimento desta patologia. Tudo indica que a BIA-ALCL está ligada a textura das próteses, macrotexturizadas de silicone ou poliuretano são a maior parte dos casos, com um número muito pequeno de casos em próteses lisas. Também é necessário que a paciente tenha uma propensão genética para desenvolver a doença. Normalmente o quadro abre com um seroma progressivo relatado pela paciente com aumento de volume da mama ou massa, e confirmado em exame de imagem tipo ultrassonografia ou ressonância de mama demonstrando seroma, espessamento capsular com ou sem nódulo e retração.

 O estudo do líquido retirado por punção do líquido feito por citologia e imunohistoquímica a procura de células que superexpressam CD 30 e não expressam a linfoma quinase  anaplásico ALC confirma a doença. Assim, é recomendado que se puncione todo seroma periprótese após 6 meses da colocação na ausência de história de trauma ou sinais de infecção local.  Feito o diagnóstico, é necessário fazer o estadiamento, exames que visam avaliar a extensão da doença. Na sua grande maioria (80 %) a doença é in situ ou restrita a cápsula formada ao redor da prótese, de modo que a capsulectomia (retirada da cápsula) é suficiente como tratamento, não necessitando de quimioterapia ou radioterapia. Em casos onde existe doença invasora que não foi possível retirar toda a cápsula faz se a complementação com radioterapia local. A quimioterapia é utilizada nos casos de doença linfondonodal axilar, pulmonar, óssea ou cerebral. Em alguns países o brentuximab vedotin que é um anticorpo monoclonal direcionado para o CD 30 está sendo utilizado como terapia alvo.

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