Lipoenxertia é uma das técnicas utilizadas em Oncoplastia Mamária. Em minha opinião, a sua descoberta representa para a Mastologia e outras áreas cirúrgicas da Medicina uma evolução tão importante quanto a descoberta da roda. Essa comparação facilita a compreensão ao entendermos que, na oncoplastia, algum tecido do nosso corpo que seria desprezado durante um procedimento estético, realmente jogado fora para obtenção do resultado, numa cirurgia estética é utilizado para reparar a cicatriz deixada pelo tratamento do câncer da mesma paciente.
A Lipoenxertia é a retirada de tecido adiposo com células troncos presentes neste através de uma lipoaspiração de qualquer parte do corpo. Seguindo a técnica descrita por Colleman, há o preparo deste tecido aspirado retirando a fração de óleo (acelular) e sangue resultante da centrifugação, a fração de tecido adiposo com células tronco no local resultante é injetada na mesma paciente seguindo a mesma técnica no local necessário para fazer o reparo da mama. Assim, para fazermos a Lipoenxertia sempre utilizamos o tecido da própria paciente, não existindo a possibilidade de rejeição por se tratar de um autotransplante tecidual.
Essa é realmente uma técnica muito versátil, e podemos utilizá-la na cirurgia de um setor ou quadrante de mama, ou mesmo na reconstrução de toda uma mama com um grande dorsal lipoenxertado. Ela também serve para reparar cicatrizes tardias após o uso de prótese mamária, e até mesmo para recuperar o aspecto natural da pele lesada pela radioterapia (lesão actínica), de modo que utilizamos para evitar cicatrizes ou repará-las na mama.
Algumas mulheres não possuem área doadora de gordura por serem magras, não sendo, assim, boas candidatas para esta técnica. Dependendo do tamanho e volume do defeito na área receptora, será necessário fazer mais de uma aplicação com intervalos de 4 a 6 meses, pois a área receptora também tem um limite de aceitação tecidual do volume que é transferido, e é preciso que se espere o crescimento de neovascularização para nutrir o tecido enxertado.
Desse modo, alguns locais exibem uma perda do volume lipoenxertado maior ou menor em função da vascularização previamente existente.
Aprendi na prática com os maiores entusiastas desta técnica no Brasil e que aprenderam diretamente com Dr. Colleman. Com a sua utilização e vivenciando sua imensa aplicabilidade, também me tornei um difusor do uso desta técnica na mama. O custo de uma lipoenxertia está na dependência do tamanho do defeito na área receptora, do local doador, número de sessões que serão necessárias para recuperar e tipo de anestesia que teremos que utilizar. Na grande maioria dos casos, aplicamos a anestesia geral e em regime de hospital-dia.
Existem pequenos pontos de sutura na pele que são feitos com fio absorvível, não necessitando a retirada no pós-operatório. Esses locais são os locais por onde passamos a cânula para lipoaspirar e lipoenxertar. É normal aparecer pequenas manchas roxas na região doadora, que são decorrentes do trauma de pequenos vasos pela retirada do tecido adiposo. Essas manchas são conhecidas como equimose e desaparecem no período de 10 a 14 dias de pós-operatório.
A dor é de leve a moderada, sendo controlada com analgésico comum e anti-inflamatório. O uso de roupa compressiva ajuda a diminuir a formação de equimose, além de ajudar a modelar a forma do corpo no pós-operatório. A questão de fazer exercício físico vai depender da motivação pela qual foi feita a lipoenxertia, geralmente pode variar entre 14 a 60 dias.
Os riscos envolvidos na lipoenxertia são os comuns a qualquer procedimento cirúrgico e anestésico desde infecção, sangramento e dor no local doador e receptor até morte, porém em uma parcela muita pequena dos casos, sendo considerado um procedimento de baixo risco de vida. Como complicações específicas temos a necrose, calcificação e absorção da gordura enxertada.
Entretanto, acredito que a pergunta que todos querem saber é se ela está ligada ao aumento de aparecimento ou maior número de recidiva de câncer por se tratar de um estímulo ao crescimento de vasos locais, e a resposta é não. Não existe evidência ou trabalho que demonstre um maior número de recidiva ou aparecimento de novo câncer devido a lipoenxertia, sendo, portanto, uma técnica muito segura para uso em oncologia, atualmente atualizado nos maiores centros de tratamento de câncer de mama.
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