O câncer de mama é atualmente o câncer de maior incidência na mulher, e infelizmente aqui no Brasil não é diferente. Em nosso país o câncer de mama tem 3 vezes mais casos que o segundo tumor que mais acomete as mulheres. A idade média é aos 45 anos, sendo incomum acometer mulheres com menos de 35 anos. Em casos assim, devemos pensar na alteração genética.
A grande maioria dos diagnósticos de câncer será o primeiro caso numa família e não encontraremos um fator isolado como causador, assim apenas 10 % dos casos são de transmissão genética (de mãe para filha). O câncer de mama acaba sendo de origem multifatorial e a maioria dos fatores não conseguimos isolar.
Como forma de prevenção, temos as medidas de controle geral da saúde que parecem reduzir em até 30 % a incidência de câncer e passam pelo exercício físico e nutrição. Evitar a obesidade com uma alimentação saudável, ter uma prática regular de exercícios físicos, evitar o uso de drogas como cigarro e bebidas alcóolicas são o que todos já sabem, mas poucos aplicam no seu dia a dia.
A amamentação abaixo de 25 anos parece também proteger a mama, bem como o maior número de gestações. A exposição hormonal, bem como a reposição hormonal e terapias para aumentar a fertilidade podem infelizmente aumentar a chance futura de desenvolvimento de câncer de mama. A radioterapia de tórax utilizada anos atrás como forma de tratamento de linfoma é um fator de alto risco para desenvolvimento futuro do câncer de mama.
A Mamografia ainda é o exame de prevenção orientado a iniciar após os 40 anos em famílias que não tenham história de câncer de mama, pois cerca de 30 a 40 % dos casos a doença está presente em exame de imagem e não é palpável pelo médico ou paciente, ou seja, é assintomática sendo um achado em exame de prevenção ou direcionado a uma queixa que não tem relação com o câncer.
Nos casos sintomáticos, a maior parte apresenta-se como um nódulo ou massa palpável duro que a paciente sentiu durante o autoexame na maior parte das vezes ou visto na consulta de rotina anual. O nódulo pode estar fixo profundamente à musculatura torácica ou invadindo a pele quando superficial, outros achados são retração da pele da mama ou do mamilo ao movimentar os membros superiores. Outros achados são secreção mamilar com sangue ou água de rocha, edema da pele tipo casca de laranja chegando a ulceração com secreção e linfonodos axilares ou cervicais aumentados.
A questão da dor no local do nódulo bem como a textura do nódulo sozinhos não são suficientes para diagnosticar um câncer, e muitas vezes são sinais de uma infecção na mama (mastite).
O Dr Marcelo Biasi Cavalcanti é médico especialista com formação em Oncologia Cirúrgica e Mastologia, e vem se dedicando ao diagnóstico, tratamento e recuperação da paciente acometida por câncer de mama, atende a pacientes com suspeita de câncer de mama utilizando da consulta e exames para definir a necessidade ou não de tratamento. A confirmação de câncer de mama suspeita gerada pelo nódulo palpável ou visto em exame de imagem é sempre feita através de biópsia. Com o diagnóstico confirmado e exames direcionados para avaliar a presença de doença em outros locais corpo (metástase) são apresentados para a paciente as formas de tratamento, quais seriam a ideal para o seu caso especificamente, tratamento individualizado.
Tipos e subtipos de Câncer
Quando se fala de câncer parece que existe apenas um tipo, e que por consequência o tratamento e a evolução deste será sempre a mesma. Não é verdade. Um exemplo é que na mama podemos ter vários tipos de câncer, que serão classificados conforme o tecido que deu origem. A região torácica onde está a mama é formada por uma combinação de vários tecidos: pele, celular subcutâneo (gordura), sustentação, glandular, muscular liso (vasos) e estriado (musculatura torácica), linfonodal. Inicialmente, dividiremos o câncer em dois grupos: os “in situ” e os invasores. O primeiro não tem capacidade de invadir e nem se espalhar por outros órgãos do corpo (metástase), já o segundo possui tal capacidade. Assim o carcinoma in situ, apesar do nome, não é considerado um câncer por muitos.
O carcinoma in situ é dividido em lobular e ductal. Já o invasor tem os mesmo dois tipos ductal, lobular, e outros variantes como medular, mucinoso, apócrino, também podendo também existir outros tipos de câncer na mama que tem origem em outra célula que não do epitélio glandular como linfoma, sarcoma (e suas variações angiossarcoma, lipossarcoma, miossarcoma). A mama também pode ser foco de metástase de outros tumores de outros órgãos do corpo (melanoma, pulmão, estômago, linfoma).
A informação que segue abaixo é especificamente para carcinoma invasor de mama do tipo ductal que é o mais incidente. Para tratar é necessário confirmar através de biópsia (amostra tecidual) que a suspeita da paciente ou de seu médico estava correta. Uma vez feito o diagnóstico, o médico leva em consideração fatores específicos do tumor como tipo específico histopatológico, grau de diferenciação, tamanho da maior lesão e presença de outras lesões na mesma mama ou outros locais do corpo. Com o auxílio do estudo da imunohistoquímica feita na biópsia já realizada é possível classificar em subtipos de câncer aproximando do que chamamos de classificação molecular. Esses marcadores são ditos como preditivos, pois predizem a resposta ao tratamento por determinado medicamento. São avaliados através de imunohistoquímica a porcentagem de expressão de receptores hormonais para estrogênio e progesterona, nível de expressão de HER-2 neu e a porcentagem do KI67.
Como fatores do paciente que são avaliados deve-se considerar particularidades na fase da vida que as pacientes vivenciam (gravidez, jovem, idoso, e presença de outras doenças e o impacto (limitação) que estas impõem ao estado geral da paciente) e o desejo (anseios) da paciente para o futuro. O cirurgião também considera a proporção do tamanho do câncer em relação ao tamanho da mama da paciente, para avaliar se será possível conseguir margens livres (ausência de doença tocando na margem da peça ressecada) e ao mesmo tempo manter uma forma aceitável da mama através da cirurgia conservadora, ou se será necessário fazer a retirada de toda ela (mastectomia).
Em alguns casos é optado junto com a paciente por iniciar o tratamento pela quimioterapia antes da cirurgia, também conhecida como neoadjuvante. As indicações clássicas da neoadjuvância são as que tem como objetivo transformar o inoperável em operável, ou operável de maneira radical em uma cirurgia de menor porte, de maneira a poupar a mama em função de uma regressão tumoral com a neoadjuvância.
A mastologia está em constante evolução e determinados subtipos de câncer de mama como o triplo negativo e HER2, mesmo quando são pequenos e facilmente operáveis, devemos começar pela quimioterapia neoadjuvante, pois só assim saberemos se aquele câncer responde ou não a quimioterapia instituída, e também devido a alta taxa de resposta completa (ausência de doença na cirurgia após a quimioterapia).
Em casos onde existir doença ao término da neoadjuvância confirmada na cirurgia (resposta for parcial), a paciente poderá receber outra forma de quimioterapia chamada de adjuvante (um esquema de medicação diferente da que foi feita antes da cirurgia), e que não receberia se não soubéssemos se o câncer era ou não sensível ao tratamento instituído. Esta forma de pensar não é aplicada a todos os subtipos do câncer de mama porque já sabemos que determinados subtipos não respondem tão bem à neoadjuvância, e então, nesses casos, damos preferência à realização de cirurgia primeiro.
Como visto, o tratamento é totalmente individualizado levando em consideração vários fatores preditivos e prognósticos do tumor junto com consideração e características individuais da paciente, de forma que se abre um leque com opções de tratamento, e então será decidido qual o melhor tratamento para cada caso.
O texto acima serve para orientação. Para maiores esclarecimentos, consulte sempre um (a) especialista.
Estadiamento
Estadiamento é o termo médico utilizado para descrever em que nível (estágio) a doença tumoral se encontra no paciente, segue normas internacionais e está em constante modificação de acordo com a evolução no conhecimento científico do local de início do câncer. Ele pode ser clínico, feito através da investigação na consulta de queixas e alterações ao exame físico do paciente somado a exames que serão realizados de acordo com a suspeita do médico assistente. Assim, o médico que conduzirá o caso deve ter formação e conhecimento sobre o comportamento tumoral para julgar quais exames são necessários e ajudar desta forma a definir o tratamento.
O estadiamento patológico é feito após a cirurgia ou biópsias de áreas suspeitas, e leva em consideração o tipo histológico, tamanho do tumor, grau de invasão do órgão e órgãos adjacentes, bem como a presença de doença em linfonodos ou órgãos distantes ao do início do câncer.
O estadiamento ajuda a determinar qual a melhor opção de tratamento, a monitorar a resposta ao tratamento e como deve ser o seguimento. Ele também auxilia a determinar a probabilidade de cura. Em relação ao câncer de mama, o estadiamento apresenta várias subdivisões e é algo altamente complexo. Abaixo, faço uma simplificação para entendimento do leigo, do que seria um estadiamento, mas na realidade nós médicos utilizamos o estadiamento desenvolvido e publicado pela União Internacional contra o Câncer – UICC.
Estádio 0
Na mama, o estádio 0 é aquele encontrado com a mamografia de prevenção, muitas vezes bem antes da paciente apresentar algum sintoma. A mamografia então detecta microcalcificações que possuem o tamanho de grãos de sal ou às vezes pequenos nódulos, ambos suspeitos, que na biópsia demonstra ser um tumor in situ. No estádio 0 a chance de cura com o tratamento chega a 99%, sem necessitar da quimioterapia pois a doença não tem a capacidade de invadir tecidos locais ou regionais, e muito menos de espalhar em órgãos à distância.
Estádio I
Quando se trata do câncer de mama, são tumores invasores iniciais menores que 2 cm, que podem ter sido descobertos através do autoexame, na consulta de rotina ou no exame preventivo anual. Neste estádio, a doença apresenta grande chance de cura, muitas vezes podendo ser realizado um tratamento conservador da mama, seguido de quimioterapia e radioterapia. Para definir a sequência de tratamento levamos em consideração o subtipo tumoral.
Estádio II e III
São tumores maiores que 2 cm e que podem ter acometimento local mais extenso com envolvimento de pele ou musculatura, somado ou não ao acometimento de linfonodos regionais. Neste estádio, a decisão quanto a forma de início de tratamento, cirurgia ou quimioterapia, e a extensão da cirurgia vão depender dos anseios da paciente e da relação tamanho do tumor em relação ao tamanho mamário, bem como o subtipo tumoral.
Estádio IV
Neste estádio é quando a doença está acometendo órgãos distantes e, infelizmente, a chance de cura é bastante reduzida. Nesse momento o tratamento passa ser chamado de paliativo e deixa de ter a mesma agressividade utilizada para intenção de cura. O objetivo é conseguir prolongar ao máximo a qualidade e o tempo de vida.
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